Zooarqueologia
Os sítios arqueológicos produzem grande diversidade de artefatos, fornecendo indícios que auxiliam os arqueólogos a compreender o passado. Juntamente com os artefatos em pedra e cerâmica, podemos encontrar os elementos faunísticos (fauna). Os principais elementos faunísticos recuperados destes sítios consistem geralmente em partes duras dos animais tais como os ossos, dentes, placas ósseas, etc.
As partes moles como o músculo, o pêlo, a cartilagem e as penas deterioram rapidamente sendo dificilmente preservadas. Zooarqueologia se refere ao estudo da arqueofauna proveniente de sítios arqueológicos. Um dos principais objetivos é entender melhor o relacionamento do ser humano com o meio ambiente e outras populações animais (Reitz e Wing, 2001). O estudo destas faunas são amplamente trabalhadas por indivíduos que possuem um grande interesse biológico. Muitos destes são altamente descritivos, traçando futuras direções para a zooarqueologia (Davis, 1987).
Uma destas linhas está ligada à associação histórica entre humanos e as mudanças ambientais. Vestígios faunísticos provenientes de sítios arqueológicos provam a associação dos seres humanos com animais extintos ou muito raros, o que demonstra as mudanças que ocorreram nestas espécies animais (Eaton, 1898; Hay, 1902). Esta arqueofauna quando analisada de forma específica, demonstra muitos aspectos relacionados ao sítio: dieta do grupo, tempo (sazonalidade), ambiente (floresta, cerrado, etc.), a posição geográfica do sítio na época de ocupação (próximo a rios ou praias) e até mesmo determinar as condições sanitárias do local (Davis, 1987).
Que tipo de informação os zooarqueólogos extraem dos espécimes estudados? O zooarqueólogo deve conseguir identificar que tipos de animais (espécie) e que partes do esqueleto (elementos faunísticos) são representados por cada espécime. Os ossos dos animais diferem em tamanho, forma (morfologia) e textura e estas características são usadas para identificar quais espécies e elementos estão representados na coleção. Depois que as espécies e seus elementos são identificados, outros tipos de informação como a idade, o sexo e as modificações (naturais ou antrópicas) podem ser observadas. Os fragmentos mais utilizados para determinar a idade são os dentes e os ossos do membro. Os dentes passam por uma seqüência de erupções, desgastes e perdas. A ordem da troca dos dentes do jovem com relação aos do adulto e um desgaste mais tardio em indivíduos mais velhos podem fornecer uma idade aproximada do animal.
Os ossos do membro são úteis para determinar a idade porque em animais novos, as extremidades dos ossos (epífises) não são fundidas ao corpo (diáfises), enquanto que em animais mais velhos, as epífises e diáfises estão fundidas. Determinar o sexo de um animal através de um simples fragmento de osso é muito difícil. Entretanto, em determinados animais como os cervídeos, a distinção pode ser feita pela presença de chifres nos machos. Outros indícios mais sutis como a forma dos ossos do crânio e da costela podem ser utilizados também. As modificações observadas em restos faunísticos incluem as marcas feitas por instrumentos utilizados durante a caça ou o descarne, ação de roedores, evidência da queima ou rejeito. Uma vez que a informação dos fragmentos individuais foi diagnosticada, podemos combinar os dados para responder as perguntas pertinentes às interações entre humanos e animais. A zooarqueologia usa os princípios da antropologia, biologia, ecologia e zoologia para interpretar os elementos faunísticos de uma amostra.
Usar as informações destas ciências produzem um retrato mais exato da relação entre seres humanos, animais e o meio ambiente. Os animais sempre abrangeram uma larga escala no papel da vida humana. Fornecem alimento, abrigo, roupas, ferramentas, ornamentos, símbolos e fontes de trabalho. Algumas das perguntas que podem ser respondidas com os elementos faunísticos incluem a utilização dos animais na dieta, práticas da caça, domesticação, reconstrução ambiental, sazonalidade, status social e etnicidade.
Outras áreas de pesquisa dentro da zooarqueologia incluem estudos de práticas de caça e da domesticação animal. Os caçadores, pescadores e coletores são os fornecedores dos recursos animais. Possuem uma riqueza no que tange o conhecimento sobre os animais e seus hábitos, que foram passados e aprimorados de uma geração para a outra. As estratégias de subsistência dos povos são baseadas neste conhecimento e permitem o sucesso em coletar, pescar ou caçar animais. Podemos pontuar quatro tipos de questionamento que envolvem a subsistência humana e que estão relacionadas com a caça e a domesticação animal: quais espécies foram caçadas ou agrupadas, quais habitats foram explorados pelos caçadores, como os rebanhos domésticos foram controlados, quais ferramentas e as técnicas que foram utilizadas para capturar os animais e como estas espécies foram mortas e consumidas.
Os elementos faunísticos também podem ser utilizados no intuito de reconstruir o ambiente passado, pois sabemos que os animais em particular ocorrem em habitats específicos e podemos usar nossos conhecimentos atuais para reconstruir de que forma o ambiente se apresentava na época da ocupação. Os pequenos mamíferos e moluscos são bons indicadores de ambientes passados porque necessitam de elementos particulares do meio em que vivem.
